Política

Fazendo serias denúncias, Papaléo deixa o governo Waldez





 

Vice-governador renunciou ao cargo após ser trocado por outro para concorrer às eleições deste ano. Durante entrevista coletiva, Papaléo Paes chamou a atenção da Justiça Eleitoral para o pleito deste ano.

 

Na manhã desta terça feira, 7, o vice-governador do Estado do Amapá, Papaléo Paes (PSD), convocou a imprensa local para uma entrevista coletiva, no Palácio do Setentrião, localizado no Centro de Macapá. Na ocasião, ele se pronunciou sobre a chapa formada por Waldez Góes (PDT) e o empresário Jaime Nunes (PROS), que lhe tirou da disputa eleitoral de 2018 e impulsionou a sua renúncia do cargo de vice-governador. Além disso, ele fez serias denúncias, expondo os bastidores da formação da chapa e pediu atenção da Justiça Eleitoral.

Em pouco mais de 1h de entrevista, ele falou sobre a sua trajetória política até a formação da chapa com Waldez para a disputa eleitoral de 2014. Na época, um acordo foi firmado entre os dois, vislumbrando as eleições seguintes. Papaléo aceitaria compor a chapar se, em 2018, visse como candidato ao Senado apoiado pelo governo. Em contraproposta, Waldez afirmou que, se estivesse bem no governo até o pleito, ele poderia concorrer ao cargo, mas, caso contrário, solicitou que ficasse para concorrer novamente como vice-governador.

Em março de 2018, o acordo foi novamente pautado pelos dois. O atual governador, projetando que a eleição estaria cheia de candidatos ao Senado, solicitou a manutenção da chapa com Papaléo, que aceitou. O ex-vice-governador, durante toda a entrevista, enfatizou a relação de respeito, lealdade e carinho com o companheiro de gestão. Ele citou que, em 2017, após a eleição de João Dória (PSDB) ao governo de São Paulo, foi convidado para fazer parte do grupo encabeçado por Jaime Nunes, que pretendia tirar Waldez Góes do poder.

Em uma das reuniões, foi-lhe apresentada uma Minuta. Ele aproveitou a coletiva e fez a leitura de um trecho do documento: “Grupo Político-Empresarial do Amapá tem a pretensão de eleger o próximo governador, senador, deputados federais e estaduais. Capitaneado pelo vice-governador (que era justamente pra me botar a frente do PSDB, pra tentar colocar o partido pra cá), ex-senador Papaléo Paes, o grupo é liderado pelo maior empresário do comércio lojista de móveis, eletrodomésticos, alimentos e transportes, Jaime Domingues Nunes, que foi candidato a vice-governador, foi presidente da Associação Comercial e Industrial do Amapá, da Federação do Comércio e assim vai...”

Na oportunidade, ele teria recusado a proposta. O encontro teria sido comunicado ao governador no dia seguinte.

Com o pleito se aproximando, Papaléo conversou com o presidente do seu partido, Marcos Reátegui, sobre o caso. Reátegui, por sua vez, verificou a situação com Góes, que disse que estava indeciso. O então vice-governador decidiu ir diretamente com o governador, que solicitou 7 dias para responder.

“Eles me excluíram da vice e de qualquer outra candidatura. Ninguém tem o direito de tirar os sonhos dos outros”, disse Papaléo, citando a frase que Waldez usa no palanque. “Fui cassado em plena democracia pelo governador do Estado”, continuou. Sentindo-se traído, ele chamou a atenção da Justiça Eleitoral.

“Tem candidatos que nós vamos votar neles, mas na candidatura do governador Waldez vamos votar no vice. Eu duvido muito o porquê esse rapaz quer ser vice. O investimento que ele deve ter feito pra ser vice, tanto é que o secretário chegou falando que ele vai patrocinar a campanha. E eu chamo a atenção aqui da Justiça Eleitoral: Fiquem atentos ao Caixa 2! Porque se já é covardia a reeleição com os outros candidatos, imaginem com a máquina na mão e o cofre do lado. Não é mais democracia”, enfatizou.

Papaléo Paes enfatizou ainda que o escolhido para ser vice-governador de Waldez terá que explicar muitas situações mediante as eleições e, principalmente, sobre a operação Mãos Limpas, deflagrada em 2010. “Ele e outros são citados nesta operação, como justificam o que fizeram? É injustificável”, completou.

Para ele, os principais articuladores dessa reviravolta na campanha são três secretários, que ele os definem de “menudos”. Perguntado se subirá ao palanque nesta eleição, ele disse que apoiará João Capiberibe (PSB) ou Davi Alcolumbre (DEM), mas precisa “esfriar a cabeça” para definir sua posição. Finalizou a entrevista lendo o ofício sobre a sua renúncia, que deve ser apresentado à Assembleia Legislativa do Estado do Amapá (ALAP).

“Trata-se de uma decisão um tanto difícil da minha parte, pois sabemos que o Brasil está mudando, e isso é percebível, estamos aprendendo a conviver com as práticas democráticas e não devemos permitir que a palavra proferida como compromisso seja somente falácia que acaba violando pressupostos básico da Política [...] Uma vez rompido esse compromisso, não me resta outra coisa senão uma tomada de decisão severa para certificar a indignação”, diz um trecho do ofício.

Ainda no documento, Papaléo ressaltou que o povo luta por um país mais justo, compromissado com os ideais da Justiça e por conta disso, não pode continuar a exercer o cargo. “A decisão de renúncia que comunico ao Poder Legislativo, de fato, não era minha vontade, porém não me resta outra decisão”.

Em nota à imprensa, o Governo do Amapá disse que a decisão é estritamente pessoa e deve ser respeitada como parte do processo democrático. Diz, ainda, que o Amapá vive plenamente o ambiente de amadurecimento e estabilidade de suas instituições.

Com a renúncia e numa possível ausência do titular, Carlos Tork, presidente do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP) assume o Executivo. Kaká Barbosa, atual presidente da ALAP, que seria o substituto natural, segunda a legislação, está impedido de assumir por ser candidato à reeleição como deputado estadual.

 Da Redação